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domingo, 27 de novembro de 2011

O sentido universal da Páscoa judaica





O sentido universal da Páscoa judaica

Folha de São Paulo - Tendências / Debates
Jaime Pinski (Historiador e editor. Professor Titular da Unicamp)

O CALENDÁRIO registra nesta semana a Páscoa dos judeus e a dos cristãos. Ambas as comemorações tiveram a mesma origem, afastaram-se e negaram-se ao longo da história e tendem a aproximar-se novamente.
O reconhecimento da origem judaica de Jesus, agora um fato religioso indiscutível, diminuiu bastante o número daqueles que apregoavam distância e até hostilidade entre os seguidores das duas religiões.
Resquícios da Idade Média (quando se pregava, em púlpitos de igrejas, massacres contra os judeus pelo fato de estes, supostamente, beberem sangue de garotos católicos em suas ceias de Pessach, a páscoa judaica) fazem parte de um passado que quase ninguém quer reviver.
Até a velha malhação do Judas, como metáfora do judeu supostamente traidor, mudou o seu caráter. Agora os Judas de sábado de aleluia são traidores mais reais, facilmente encontráveis no mundo político.
Os judeus fazem hoje à noite uma ceia de Pessach, e tradicionalmente se diz que ela registra "a saída dos judeus do Egito", comandados por Moisés, há uns 35 séculos.
Entretanto, não foram encontradas evidências da ida ou mesmo da presença do povo hebreu no Egito, nesse período, mesmo porque ainda não havia um povo hebreu. É difícil, portanto, falar de sua saída.
Com certeza poderíamos considerar a travessia (do Egito para a Terra Prometida, da escravidão para a liberdade) um mito de criação, desses que todos os povos, nações, religiões e etnias têm.
Claro que havia um grande movimento de povos do deserto atrás do grande oásis que era o Egito, irrigado e fertilizado pelo Nilo. Por vezes eles se integravam e se diluíam entre a população egípcia, por vezes eram expulsos quando seu trabalho não mais era necessário, como ocorre com imigrantes de países pobres em nações mais desenvolvidas.
Esses povos devem ter aprendido muito com a civilização egípcia, da qual levaram cultura material e simbólica para outros lugares, como a então terra de Canaã.
Algumas tribos com esse histórico desenvolveram língua própria, cultura específica e unificaram-se em um reino, lá pelo ano 1000 a.C., sob o comando de Saul, Davi e Salomão, este poderoso o suficiente para construir o Templo de Jerusalém.
Desmandos do poder e injustiças sociais enfraqueceram as monarquias (que haviam se dividido em Israel e Judá) e propiciaram o surgimento dos chamados profetas sociais - Amós e Isaías, entre outros -, que inovaram pregando o monoteísmo ético, conjunto de valores que passaram a fazer parte do patrimônio cultural da humanidade e se encontram na própria base do judaísmo (assim como do cristianismo).
Aí voltamos para o Pessach e nos perguntamos por que essa é uma comemoração milenar.
Alguns responderão com o judaísmo institucional, que lamenta até hoje a destruição do Templo de Jerusalém e do poder monárquico, do qual os sacerdotes eram uma espécie de funcionário religioso.
Outros acenam com o judaísmo dos escribas, a letra da lei e dos seus intérpretes, que exigem rituais imutáveis. Quem não os seguir literalmente vai "acertar suas contas com Deus nesta ou em outra vida". Esse tipo de judaísmo considera razoável uma dicotomia entre a vida cotidiana e o ritual religioso, bastando seguir este com propriedade para que os pecados, eventualmente ocorridos naquela, sejam absolvidos sem maiores problemas. E os rabis milagreiros, além dos místicos sábios, estariam aí para nos explicar "a" verdade.
O problema é que a intermediação entre o judeu e seu Deus é a negação da essência do judaísmo (o monoteísmo ético), que busca igualar todos os homens e os estimula a ler e compreender o que leram, exatamente para ter acesso à palavra divina.
Entre o templo e os escribas, fico com os profetas.
Um povo é um grupo com a consciência de um passado comum. Não é fundamental que o passado comum tenha realmente existido, basta a consciência da existência dele: ao escolher a herança judaica, cada indivíduo passa a ser depositário de um universo de valores.
Não interessa se há 3.000 anos seus ancestrais já eram judeus, não importa se ele é descendente de cázaros judaizados durante a Idade Média ou de ucranianos convertidos após 1648.
Não vem ao caso se optou por seu judaísmo há um ano ou uma semana. O importante não é a origem étnica, nem a lamentação pelo templo destruído e muito menos a prática de rituais mecanicamente executados.
A grande travessia, aquela que marcou a humanidade, foi a de um mundo aético para um mundo ético, de um olhar para si mesmo para um olhar para o outro, de uma existência solitária para uma existência solidária.
Sim, Pessach é uma travessia. Que só tem sentido se for feita na companhia de todos os irmãos de raça, a raça humana.





Jaime Pinsky - Historiador


sábado, 12 de novembro de 2011

A CADEIA ESPIRAL DA VIDA





A CADEIA ESPIRAL DA VIDA
Caio Fabio

A vida acontece em espiral.


Há duas maneiras de mostrar o sentido desta tese.


Uma é aquela que vai de dentro para fora, e outra, a que vai de fora para dentro.


A que vai de dentro para fora é, na Física, aquela que iria das partículas subatômicas às galáxias. Na Biologia, iria do DNA a todo o sistema de condução e armazenamento de energia vital evolutiva. Na Consciência, iria dos olhinhos de redemoinhos do Inconsciente aos turbilhões do Consciente, que sobe ou desce na escada espiral de apropriações de percepções, sempre em espiral. Na História,  seria a evolução progressiva de acontecimentos que começam com a vontade de um indivíduo e cresce como a história cresce, espiraladamente, na direção da macro História. E na Revelação, iria do íntimo ao Cósmico e além — sempre de fé em fé, mas numa espiral.


A via que vai de fora para dentro segue o mesmo padrão, porém no sentido inverso — obviamente em espiral. Este é o desenho da vida — até nas impressões digitais ou nas palmas das mãos. Até a água sabe disso: os polos mudam o sentido em que a água faz a volta na pia de seu banheiro quando cai da torneira no ralo, dependendo de em que hemisfério do planeta você esteja — mas é sempre queda retorcida em espiral.


Há uma espiral na criação. Deus faz da espiral do redemoinho das existências a vida, a consciência, a história e a revelação acontecerem. Mas Deus é maior que o espiral. O espiral é a vida... Deus é Vida.


Na consciência, a escada das percepções é também espiral: no andar de cima, você sempre enxerga onde esteve antes, na mesma sequência, sem incoerência, no andar de baixo. Você vai tendo visões de você mesmo antes, quando o espiral da vida passa por aquela posição, mesmo que você já esteja muitos níveis acima naquela progressão. A memoria é cumulativa, mas a apropriação da consciência sempre aguarda que você veja como memória quando você mesmo esteve, andares abaixo, passando naquele mesmo lugar existencial.


Então você se enxerga... E cresce. Ou não. Pode até ficar com raiva.


A história não é circular e nem linear; ela é espiralada na horizontal do tempo.


A revelação é vertical e interior, mas se expressa na história como a história é: progressivamente espiralada no horizonte do tempo.


Deus não é espiralado. Espiralada é a vida, para o bem ou para o mal.


Deus é reto? Ora, é só uma maneira linear de dizer o que palavras não dizem.


Deus é! "Eu sou é o meu nome" — diz Ele de si mesmo.


A humildade recomenda que a teologia pare aqui. O que passar disso é pecado.


Isto é só um ensaio do ensaio. Mas não saio dele.






Políticos fartos de democracia, polícia contra o povo.

As forças de segurança vêm reprimindo com violência alguns protestos nos EUA, como no restante do mundo.

Por Naomi Wolf, do Project Syndicate



Ao que parece, os políticos estão fartos da democracia. Por todo os EUA, a polícia, atuando sob as ordens das autoridades locais, vem pondo fim aos acampamentos montados pelos manifestantes do movimento Ocupe Wall Street. Às vezes com uma violência escandalosa e totalmente gratuita.

No pior incidente até agora, tropas de choque cercaram o acampamento dos integrantes do movimento em Oakland e dispararam balas de borracha (que podem ser fatais), bombas de efeito moral e granadas de gás lacrimogêneo, com alguns policiais investindo diretamente contra os manifestantes. No canal do Twitter do Ocupe Oakland surgiu uma notícia como se fosse sobre Praça Tahrir do Cairo “eles estão nos cercando; centenas e centenas de policiais; há veículos blindados e tanques”. Foram presas 170 pessoas.

Minha recente prisão, embora eu tenha obedecido as exigências contidas na autorização e realizado um protesto pacífico numa rua em Manhattan, trouxe a realidade da repressão bem próxima de nós. Os Estados Unidos estão acordando para o que foi criado enquanto dormiam: empresas privadas contrataram sua polícia (a JP Morgan doou US$ 4,6 milhões para a Fundação da Polícia da Cidade de Nova York); e o Departamento Federal de Segurança Interna forneceu às forças policiais municipais armas de padrão militar. Os direitos à liberdade de expressão e de reunião do cidadão foram prejudicados sorrateiramente por critérios opacos para obter as autorizações.

Repentinamente, os EUA assemelham-se ao restante do mundo que não é completamente livre, está furioso e protesta. De fato, muitos comentaristas não conseguiram entender completamente que uma guerra mundial está ocorrendo, mas que esse conflito é diferente de qualquer outro na História da humanidade. Pela primeira vez, as pessoas no mundo todo não estão se identificando e se organizando com base em posições religiosas ou nacionais, mas em termos de consciência global e as demandas são de uma vida pacífica, um futuro sustentável, justiça econômica e democracia. Seu inimigo é a “corporatocracia” que comprou governos e parlamentos, criou suas forças armadas, engajou-se numa fraude econômica sistêmica e saqueou ecossistemas e tesouros.

Em todo o mundo, os manifestantes pacíficos são satanizados como desordeiros. Mas a democracia é desordeira. Martin Luther King afirmou que a desordem pacífica é saudável, pois expõe a injustiça sepultada, que pode, então, ser restaurada. O ideal é que os manifestantes se dediquem a uma desordem disciplinada, não violenta, com esse espírito – especialmente a desordem do trânsito, que serve para manter os provocadores à distância e ao mesmo tempo deixar clara a militarização injusta da resposta policial.

Além disso, movimentos de protesto não têm sucesso em horas ou dias; manifestações geralmente implicam sentar num lugar ou “ocupar” áreas por longos períodos. Esta é uma razão pela qual os manifestantes devem arrecadar seu dinheiro e contratar seus advogados. O mundo corporativo está aterrorizado com a possibilidade de os cidadãos reivindicarem o Estado de direito. Em todos os países os manifestantes devem responder com um exército de advogados.

Comunicação. Eles devem criar a própria mídia, em vez de depender de agências de notícias tradicionais para cobrir seus protestos. Devem manter blogs, tuitar, escrever editoriais e comunicados de imprensa, assim como registrar e documentar casos de abusos da polícia.

Infelizmente, existem muitos casos documentados de provocadores violentos infiltrando-se nas manifestações em locais como Toronto, Pittsburgh, Londres e Atenas – pessoas que, segundo me disse um grego, são “desconhecidos conhecidos”. Os provocadores também devem ser fotografados e registrados e por isso é importante não cobrir o rosto durante um protesto.

Os manifestantes nas democracias têm de criar listas de e-mail locais, combinar suas listas com as nacionais e começar a registrar os eleitores. Devem dizer a seus representantes quantos eleitores registraram em cada distrito e devem se organizar para destituir políticos que são brutais ou agressivos. E precisam apoiar aqueles – como em Albany e Nova York, por exemplo, onde a polícia e o Ministério Público locais recusaram-se a reprimir com brutalidade os manifestantes – que respeitam os direitos de liberdade de expressão e de reunião.

Muitos manifestantes insistem em continuar sem uma liderança, o que é um erro. Um líder não tem de se colocar no topo de uma hierarquia: pode ser um simples representante. Eles devem eleger representantes com um “mandato” limitado, como em qualquer democracia, e treinar essas pessoas para conversar com a imprensa e negociar com políticos.

Os protestos devem ser o modelo da sociedade civil que se pretende criar. No Parque Zuccotti, em Manhattan, por exemplo, há uma biblioteca e uma cozinha; o alimento é doado; as crianças são convidadas a passar a noite ali; e aulas são organizadas. Músicos trazem seus instrumentos e a atmosfera deve ser alegre e positiva. Os manifestantes devem procurar manter a limpeza. A ideia é criar uma nova cidade dentro de uma cidade corrompida e mostrar que ela reflete o desejo da maioria e não de uma camada destrutiva e marginal.

Afinal, o que há de mais profundo no caso dos movimentos de protesto não são as demandas, mas sim a infraestrutura nascente de uma humanidade comum. Por décadas o que se tem dito aos cidadãos é que se deve manter a cabeça baixa – seja num mundo de fantasia consumista ou na pobreza e na labuta – e deixar a liderança para as elites. O protesto é transformador precisamente porque as pessoas emergem, encontram-se face a face e, ao reaprender os hábitos da liberdade, criam novas instituições, relacionamentos e organizações.

Nada disso pode ocorrer num ambiente de violência policial e política contra manifestações democráticas e pacíficas. Como indagou Berthold Brecht, após a brutal repressão dos comunistas alemães orientais, em junho de 1952, “não seria mais fácil…para o governo dissolver o povo e eleger um outro?”. Por toda a parte nos Estados Unidos, e em muitos outros países, líderes supostamente democráticos parecem estar considerando seriamente a irônica pergunta de Brecht.

TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Fonte: http://blogs.estadao.com.br/radar-global/visao-global-politicos-fartos-de-democracia-policia-contra-o-povo/

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Imagens do site G1 sobre os protestos nos EUA


Polícia entra em confronto com manifestantes (Foto: Reuters)


Em Oakland, polícia reagiu aos protestos com bombas de gás. (Foto: Darryl Bush / AP Photo)


Em Oakland, polícia reagiu aos protestos com bombas de gás. (Foto: Darryl Bush / AP Photo)








quarta-feira, 2 de novembro de 2011

BRASIL: RICA MISÉRIA – A má distribuição de renda.





BRASIL: RICA MISÉRIA – A má distribuição de renda.

A renda per-capita do Brasil o coloca como parte do terço mais abastado das nações mundiais. Mas pobre país rico! Apenas África do Sul e Malavi têm uma desigualdade de renda superior à brasileira, segundo análise do Banco Mundial. São 53 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza - 22 milhões delas em condições de indigência, com renda mensal inferior a R$ 60. Os dados são do estudo "Estabilidade inaceitável: desigualdade e pobreza", que acaba de ser divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão subordinado ao Ministério do Orçamento e Gestão.

O trabalho, realizado pelos pesquisadores Ricardo Henrique, Rosane Mendonça e Ricardo Paes de Barros, revela como a pobreza tem se mantido estável no Brasil nas últimas décadas. Esse quadro é atribuído a dois fatores: de um lado, a escassez de recursos; de outro, responsável por dois terços da pobreza no Brasil, a distribuição desigual de renda - ponto-chave para explicar o paradoxo de um país rico repleto de pobres.

Segundo o estudo, seria necessário transferir anualmente cerca de R$ 6 bilhões (o que corresponde a 2% da renda das famílias) para retirar esses excluídos do limite extremo da pobreza. Acabar com a miséria exigiria um pouco mais: R$ 33 bilhões anuais (o equivalente a 7%).

"A questão social nunca foi prioridade na política", afirma um dos autores, Ricardo Henriques, que também é professor da Universidade Federal Fluminense (UFF). "A concepção tradicional", prossegue, "foi sempre fazer a economia crescer, para acabar com a pobreza. Houve um descaso e até mesmo a falência das políticas de combate a esse problema".

Henriques considera que a sociedade brasileira trata a desigualdade como uma coisa natural. Romper essa inércia, afirma, é fundamental para erradicar a pobreza. "Isso está ligado à cultura, à forma como se deu a abolição da escravidão, ao pacto político que se estabeleceu", diz ele. "A intensidade e a duração dessa desigualdade não seriam naturais em lugar nenhum. Acontece que a sociedade não assume essa questão como relevante". O pesquisador pondera que não está defendendo uma ruptura com o modelo capitalista: "Não se trata de pregar uma mudança para o socialismo, mas de mudar a mentalidade das pessoas. Se um governo, por decreto, tentasse romper essa desigualdade, não conseguiria", garante.

Ao estabelecer a necessidade de uma mudança da própria sociedade para criar políticas efetivas de combate à pobreza, o estudo do Ipea reafirma a importância das ações articuladas pelas organizações do Terceiro Setor - seja através de iniciativas locais de desenvolvimento sustentado ou de um trabalho de conscientização e formação da cidadania, abrindo a perspectiva de debates e criando instrumentos para pressionar o Estado para a adoção de novas políticas públicas.

"A ideia da constituição de um espaço público não-governamental é estratégica para a mudança", diz Henriques. "O papel das organizações do Terceiro Setor é chave, é vital. O Terceiro Setor não deve ser um apêndice nesse processo", afirma. "O importante é fazer com que essa questão da desigualdade seja parte da agenda política do país. E se a sociedade topar fazer essa discussão, eu fico otimista", confessa.
E a discussão já começou. Quando Herbert de Sousa, o saudoso Betinho, iniciou a campanha nacional "Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida", o tema ganhou as ruas e a mídia. Anos depois, a luta ainda é a mesma. Essa foi -ainda é - uma iniciativa da própria sociedade, que preferiu não ficar à espera do poder público ou refém do que se convencionou chamar de vontade política - um bordão de poucos resultados.

(Disponível em: www.novae.inf/ricamiseria.html.2001)